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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Modelos de Comunicação

Conhecer os principais Modelos de Comunicação é o objectivo deste trabalho:

Ø Modelo de base linear
Ø Modelo de base cibernética
Ø Modelo de comunicação de Massas
Ø Modelos culturais

Um modelo representa uma forma ideal, por isso, e no caso da comunicação, conhecer os modelos implica conhecer as formas de comunicar.

Breve Nota Introdutória

O presente trabalho foi elaborado após a análise e estudo de vários modelos de comunicação, estudo esse que também nos permitiu desenvolver o nosso próprio espírito crítico acerca dos mesmos.
Ressalvamos, no entanto, que não pretendemos aqui teorizar ou conceptualizar sobre a Comunicação, tanto como tema geral, bem como ciência, pois já tivemos oportunidade de o fazer num trabalho anterior a este, intitulado «A Epistemologia da Comunicação», que pretendemos apresentar oportunamente. Sendo assim, este texto pressupõe o conhecimento prévio de conceitos e princípios básicos sobre a Comunicação, assim como as teorias entretanto desenvolvidas relativamente a esse tema.
Antes da abordagem atenta de modelos de comunicação, também aqui importa salientar a noção de modelo. Ora, de acordo com a obra Teorias e Modelos de Comunicação, “um modelo procura (…) mostrar os principais elementos de qualquer estrutura ou processo e as relações entre esses elementos, possibilitando assim o seu estudo” (Freixo, 2006: 337). Visto isto, um dos objectivos fundamentais deste nosso trabalho será o de apresentar a Comunicação como fenómeno, sua estrutura e seus elementos constituintes.
Uma nota final: quanto aos modelos de comunicação, existem quatro correntes de pesquisa principais – Modelos de base linear, Modelos de base cibernética, Modelos de comunicação de massas e Modelos culturais. Isto levou-nos a organizar o nosso estudo nestes quatro subtemas, pois achamos naturalmente que facilitará a sua compreensão.

1. Modelo de base linear

Estes modelos têm em comum os seguintes pressupostos: a comunicação surge como a transmissão de uma mensagem ou um conjunto de mensagens entre um emissor e um receptor, cujas funções estão dissociadas; essa transmissão ocorre num único sentido, ou seja, do emissor para o receptor. Daí que estes modelos são considerados lineares.
Vejamos de seguida dois principais modelos de base linear, por serem os mais representativos: o de Lasswell e o de Weaver e Schramm.

1.1. Modelo linear de Lasswell

Este modelo foi proposto por Harold Lasswell em 1948 e teve bastante impacto na época, tanto que ainda hoje as suas teorias continuam a ser objecto de estudo. Basicamente, de acordo com este autor, um acto de comunicação pode ser descrito se for possível responder de forma apropriada às seguintes questões:
a) Quem?
b) Diz o quê?
c) Através de que meio?
d) A quem?
e) Com que efeito?

Seguindo este esquema de perguntas, consegue-se proceder à análise sistemática de um acto comunicativo, por partes constituintes. Sendo assim, é possível
(a) o estudo dos emissores e “ a análise do controlo sobre o que é difundido” (idem, ibidem: 340);
(b) o estudo do conteúdo das mensagens;
(c) a análise dos meios ou canais;
(d) o estudo dos receptores/ audiência;
(e) a análise dos efeitos da mensagem nos receptores.
Este paradigma, portanto, implica determinados pressupostos relevantes, que ainda hoje são estudados, tais como:
- o processo de comunicação envolve um emissor activo que transmite um estímulo, estímulo esse que faz reagir o(s) destinatários(s);
- esse estímulo veicula uma intenção por parte do emissor que, por sua vez, pretende “obter um determinado efeito” (idem, ibidem) que está, naturalmente, relacionado com o conteúdo da mensagem;
- emissor e destinatário surgem como que isolados e não em interdependência um em relação ao outro.
Este último aspecto da teoria de Lasswell foi, com se pode imaginar, largamente discutido e criticado, até porque alguns investigadores (como, p. ex. Mauro Wolf, 1985) levantaram as seguintes questões: será que a iniciativa do acto comunicativo se deve exclusivamente ao emissor? Será que, de modo similar, o conteúdo de uma mensagem apenas afecta o destinatário?
Porém, como já referimos, a teoria de Lasswell foi bastante útil porque conduziu, nos anos subsequentes e até à data, ao desenvolvimento de muitas áreas de estudo, dentro das ciências da comunicação. Um bom exemplo disso é o surgimento dos estudos sobre os media que actualmente ainda têm bastante relevância, nem que seja só pelo facto de a nossa sociedade ser em muito influenciada por esses meios de comunicação, como é o caso da televisão, da rádio, do cinema…

1.2. Modelo linear de Shannon e Weaver

Na altura que surgiu o modelo de Lasswell, o investigador Claude Shannon propôs uma teoria sobre o acto comunicativo que quase se pode dizer veio complementar a primeira. A intenção primordial de Shannon era a de “medir cientificamente a informação” (Freixo, 2006: 342). Outro aspecto inovador desta teoria é o facto de este investigador admitir que existem vários tipos de mensagem: aquelas que são «carregadas de sentido», as que surgem «sem sentido» e até as mensagens consideradas incoerentes.
O matemático Warren Weaver, por sua vez, considerou esta teoria de Shannon e expandiu os seus pressupostos, chegando a encontrar aplicações que não as meramente técnicas ou que têm a ver com o mundo das telecomunicações. De seguida, apresentamos uma representação esquemática do «modelo matemático» de Shannon e Weaver, para melhor o compreendermos:

Quanto ao modelo acima representado, convém esclarecermos:
- a fonte de informação produz uma mensagem ou um conjunto de mensagens;
- o transmissor transforma a mensagem para que esta possa ser descodificada (p. ex. como acontece quando se fala ao telefone);
- o canal é um meio de transmissão à distância (hoje em dia muita informação é passada através de cabos);
- a fonte de ruídos pode ser tudo que possa interferir na transmissão de uma mensagem ou que possam dificultá-la;
- o receptor que, enfatizamos, tem aqui uma significação mais técnica, como no caso do receptor de uma televisão ou de uma rede para comunicações telemóveis;
- e, o destino que pode ser uma pessoa ou até uma máquina.

Podemos assim concluir que o aspecto mais importante deste modelo é que “ a noção de «informação» adquire definitivamente o seu estatuto de símbolo calculável” (idem, ibidem: 344). No entanto, este modelo foi criticado, porque acaba por não levar em conta a interacção com o receptor, a função das redes de comunicação e, mais flagrante ainda, o conteúdo propriamente dito das mensagens.
Todavia, este modelo ainda hoje é estudado, pois pode ser aplicado em diversas áreas, por uma simples razão: estas teorias descrevem todo o processo de comunicação quer se verifique entre duas máquinas, entre dois seres humanos, ou mesmo entre um ser humano e uma máquina. Além disso, este modelo evidencia um aspecto da comunicação até aí ignorado: as várias interferências que podem surgir durante um acto comunicativo, até porque o que se pretende através da comunicação é a sua eficácia e maximização.

1. Modelo de base cibernética

“Os modelos cibernéticos (…) são todos aqueles que integram a retroacção ou feedback como elemento regulador da circularidade da informação” (idem, ibidem: 347). Por outras palavras: nesta parte do nosso trabalho, iremos focar os modelos de comunicação que assumem a retroacção (ou reacção dos destinatários) como parte fundamental do acto comunicativo, isto é, a comunicação interpessoal, de interacção face-a-face. Quer isto também dizer que estes modelos distinguem-se dos lineares por considerarem o acto comunicativo não como um processo de transmissão de mensagens num único sentido, mas em que existe verdadeira interacção entre emissor e receptor, onde este último também se torna emissor ao reagir à mensagem (retroacção ou feedback). Também é de referir que, na troca de mensagens, existem barreiras ao nível da significação, barreiras físicas, culturais e de percepção.

1.1. Modelo de comunicação interpessoal de Schramm
No campo da cibernética, por volta de 1970, surge o modelo de comunicação desenvolvido por Wilbur Schramm que tem como aspecto inovador o facto de levar em consideração a relevância do feedback, no acto comunicativo, aspecto esse quase ignorado por muitos investigadores até então. Senão, vejamos:

Ora, como se pode constatar pelo esquema acima, é a noção de feedback que claramente distingue este modelo dos lineares, em que emissor e receptor são abordados como elementos independentes. Aqui, pelo contrário, é evidente a relação de interdependência entre ambos, perspectiva essa também partilhada por Denis McQuail: “as partes actuantes são apresentadas como iguais, realizando funções idênticas, nomeadamente codificando, descodificando e interpretando. Globalmente, a função codificação é semelhante à de transmissão e a de descodificação à de recepção” (idem, ibidem: 350). Por outras palavras: numa situação de comunicação não se verifica um monólogo, mas sim um diálogo em que o receptor de uma mensagem reage e, por conseguinte, torna-se ele também em emissor.
Além disso, este modelo vem evidenciar outro aspecto importante: no acto comunicativo, o emissor também adapta o conteúdo da sua mensagem de acordo com o feedback que vai recebendo do seu interlocutor, mesmo que se trate apenas de uma simples expressão facial.
No entanto, este modelo não se revela assim tão útil quando aplicado em situações de comunicação onde o feedback é reduzido ou inexistente, como acontece na comunicação de massas, em que o emissor não se encontra em situação face-a-face com o seu receptor. Daí que, anos mais tarde, Schramm modificou o seu modelo de forma a que se pudesse adaptar a situações de comunicação de massas.


1.1. Modelo circular de Jean Cloutier

J. Cloutier também é um autor que se inclui na categoria de modelos de base cibernética por, essencialmente, ter em consideração o feedback na comunicação interpessoal. Segundo a sua obra A Era de Emerec, o homo communicans (e não receptor ou emissor, em específico) pode se encontrar em ambos os pólos de comunicação, ora como aquele que transmite uma mensagem, ora como aquele que a recebe, pois ao receber uma mensagem, como estímulo, já está a reagir perante ela. Sendo assim, receptor e emissor não surgem aqui como entidades dissociadas, como nos modelos lineares de comunicação.
Convém, então, atentarmos às seguintes afirmações do próprio Cloutier, relativamente ao modelo por ele desenvolvido: “o esquema de Emerec não é estático” nem linear, mas “concêntrico, visto que o seu ponto de partida é sempre o ponto de chegada” (idem, ibidem: 353). Por essa razão, o seu modelo releva que o feedback é estritamente necessário para que a comunicação seja eficiente; é o elemento regulador de toda a comunicação.
De acordo com estas linhas gerais, o modelo de Cloutier postula os seguintes princípios:
- Emerec é o agente que tanto recebe como emite informação;
- linguagem e mensagem são aspectos indissociáveis na comunicação, pois uma não existe sem a outra, até porque “a mensagem não está verdadeiramente completada, senão quando é percebida por um outro Emerec, ou por um medium que a transmite” (idem, ibidem: 354);
- medium é o meio que permite a transmissão de mensagens, como é o caso da televisão como equipamento, bem como a indústria que a suporta;
- o medium tanto tem capacidade de recepção (input), como a de transmitir (output).
Ainda hoje este modelo é amplamente estudado pela sua adaptabilidade e pela vertente interpessoal que apresenta, como vimos.



2. Modelos de Comunicação de Massas

Nesta parte do nosso trabalho, importa salientar um aspecto fundamental: a comunicação de massas também pode ser considerada uma forma de comunicação interpessoal, pois os meios de comunicação, em geral, são regulados pelo feedback que possam vir a receber do público ou dos seus destinatários. Dito de outra forma: um programa televisivo, por exemplo, pode ser adaptado ou reajustado conforme as críticas ou reacções que recebe do público, nem que seja apenas através do estudo da taxa de audiência.

2.1. Modelo Geral de Comunicação de Gerbner

Em 1956, o investigador George Gerbner postulou um modelo geral de comunicação que tem tido bastante aplicação. Pode se dizer que o que mais se destaca no seu modelo é a sua versatilidade, o facto de que é facilmente adaptável aos diferentes tipos de interacção comunicacional, como referem Denis McQuail e Sven Windahl (Modelos de Comunicação: para o Estudo da Comunicação de Massas): este modelo possibilita “descrever processos de comunicação simples ou complexos, como uma produção (de mensagens) e uma percepção (de mensagens e acontecimentos a comunicar)”. Nota-se aqui que há uma correlação entre produção e percepção, uma visão bem diferente das anteriores onde a comunicação se estabelece entre um emissor e um destinatário.
Abaixo transcrevemos os princípios formulados por Gerbner:
alguém
percepciona um acontecimento
e reage
numa situação (contexto comunicacional)
através de alguns meios
de modo a tornar disponíveis materiais
sob determinada forma
e contexto
transmitindo conteúdo (produção)
com alguma consequência (feedback ou percepção).

Além da representação verbal, estes princípios também podem ser constatados graficamente, no esquema abaixo:...

Como se pode verificar, este esquema ilustra um exemplo de uma possível sequência de comunicação, que pode ser “mediada através de numerosos estágios por elementos humanos e mecânicos. Toda e qualquer transformação de uma mensagem envolve uma nova percepção e uma nova mensagem” (Freixo, 2006: 357), que podemos considerar como sendo retroacção, retroacção essa que, por sua vez, depende da estrutura (ou forma) e do conteúdo de uma mensagem.
Note-se também a natureza versátil e inovadora deste modelo: não tem princípio, nem fim, apresentando-se como cíclico. Além disso, introduz novos elementos que os anteriores modelos ignoram: o evento como elemento que proporciona a comunicação; a voz como necessária na comunicação verbal e interpessoal; a informação como produzida ou percebida (há aqui a ideia de output – produção e input – percepção).
Este modelo é actualmente popular e aplicável, pois pode ser utilizado para descrever inúmeras situações comunicacionais, até mesmo aquelas envolvendo máquinas. Pode também ajudar em vários campos de investigação de modo a facilitar a descrição de estágios de experimentação científica. E, ainda, como menciona McQuail, “pode ilustrar problemas comunicacionais e de percepção” (idem, ibidem) em situações de comunicação interpessoal.

1.1. Modelo de Comunicação de Massas de Schramm

Anteriormente focámos o modelo de Schramm, no que concerne a comunicação interpessoal, na área dos modelos cibernéticos. Ora, esse modelo foi criticado por apresentar algumas falhas (já referidas em 2.1., no presente trabalho) e, por essas razões, o próprio autor procedeu à sua modificação de forma a melhor adaptá-lo à comunicação de massas.
Este modelo tem os seguintes fundamentos:
- o emissor não é, neste modelo, uma entidade individual, mas colectiva; é, portanto, um organismo;
- as mensagens são transmitidas, codificadas e descodificadas pelo organismo (um grupo de especialistas, com acontece, p. ex. num canal televisivo);
- esse organismo utiliza fontes exteriores de informação e adapta as suas mensagens de acordo com a retroacção ou feedback induzido, que vai recebendo;
- “as mensagens emitidas são múltiplas, mas idênticas” (idem, ibidem: 358) já que se destinam a uma multidão de receptores, que depois vai reagir (de forma individual, mas também colectiva) perante essas mensagens, dando feedback.
Note-se aqui que tanto a entidade emissora como receptora apresenta uma maior complexidade no que concerne a sua pluralidade e, portanto, na forma como reage perante as mensagens.

1.2. Modelo de Comunicação de Massas de Maletzke

Maletzke (1963) apresenta um modelo de comunicação bastante complexo que iremos destrinçar por partes, conforme as advertências de Freixo. Como se trata de um modelo bastante completo e inovador, achamos mais pertinente e útil não transcrever exaustivamente os seus princípios, mas explicitá-los de forma resumida.
A visão de Maletzke distingue-se claramente das anteriores por ser o único investigador que explora as implicações sociopsicológicas da comunicação de massas, ao invés de dar primazia a apenas um aspecto que envolve este tipo de comunicação. É também o único autor que acrescenta ao seu modelo dois novos conceitos: a pressão ou constrangimento causado pelo meio e a imagem que o receptor tem desse mesmo meio.
No que concerne o primeiro aspecto, é de notar que o meio causa pressão no receptor, já que este tem de se adaptar aos diferentes media: “a vivência do receptor é influenciada pelas características e conteúdos do próprio meio” (idem, ibidem: 360). Por exemplo, um receptor experiencia um artigo de jornal de forma diferente do que um artigo colocado num blogue interactivo; a forma como ele interage com essa informação, dos dois tipos, é significativamente diferente, nem que seja pelo facto de o seu feedback (relativamente ao artigo) ser mais rápida e anonimamente transmitido, na Internet versus um jornal.
Quanto ao outro aspecto levantado por Maletzke – a imagem do receptor sobre o meio – salientamos que esta é especialmente relevante aquando da selecção de um determinado meio, em detrimento de outro, havendo alguns que oferecem mais credibilidade e prestígio que outros.
O receptor está também condicionado a outros factores, para além destes, na forma como interage com os diferentes tipos de mass media, tais como:
- a sua auto-imagem, a forma como se percepciona a si próprio;
- a sua personalidade;
- o facto de ser um membro da audiência, no qual se insere;
- o seu contexto social.

O processo de comunicação de massas não é só influenciado pelos factores inerentes ao receptor, mas também àqueles que pertencem à esfera do comunicador, tais como:
- a selecção dos conteúdos a transmitir ou da mensagem;
- a estruturação e forma da mensagem, que o comunicador deve adaptar de forma a ser apropriada ao meio utilizado e ao tipo de conteúdo apresentado;
- a imagem que o comunicador tem de si;
- a sua personalidade, também;
- a sua equipa de trabalho;
- a organização a que pertence;
- a pressão e constrangimento causados pelo exame público a que se encontra exposto;
- o meio social em que se encontra inserido.

Só pelo factores acima mencionados, damo-nos conta da relevância, do “peso” que os aspectos sociais e psicológicos têm no processo de comunicação de massas. Por essa mesma razão, as relações entre receptor e comunicador são, evidentemente, complexas. E, é esta complexidade que muitas vezes faz com que o comunicador não consiga prever os efeitos que a sua mensagem terá no receptor, o feedback que receberá junto do público.
De seguida, apresentamos graficamente essa complexidade de relações entre comunicador e receptor (modelo completo de Maletzke):
Conclui-se, sendo assim, que apesar de um pouco datado, este modelo continua a ser útil e válido, porque:
- é detalhado a ponto de apresentar elementos ainda não totalmente estudados, no campo da Comunicação;
- serve como lista de controlo dos factores que influenciam o processo de comunicação de massas;
- “pode ainda ser utilizado na análise parcelar dos processos” (idem, ibidem: 366);
- ajuda na planificação de um acto comunicativo, sobretudo quando o comunicador tem de ter uma clara noção da sua audiência-alvo.

1.3. Outros Modelos de Comunicação de Massas

Ainda relativamente a este tipo de comunicação, optamos por apontar, de seguida, um resumo sobre alguns aspectos que consideramos relevantes, aspectos esses que concluímos ao longo da realização e estudo do nosso trabalho:
- a aprendizagem noticiosa não é imediata, mas realiza-se por fases;
- a aprendizagem por meio de notícias é influenciada por diversos factores, como p. ex. o estímulo que provoca no receptor, o interesse prévio e conhecimento do tema por parte do receptor, o potencial de comunicação que uma notícia possa ter;

- a televisão tem a capacidade de «ensinar» um comportamento (o telespectador recebe inputs que lhe podem ser significativos e que, por sua vez, podem afectar a sua acção comportamental);
- o acto televisivo gera aprendizagem, aprendizagem essa que se torna maior, quanto mais for relevante para o telespectador, em termos psicológicos, e quanto mais provocar o seu «despertar»;
- é muito difícil determinar o que leva os telespectadores a escolherem um certo programa televisivo, em detrimento de outro, pois a televisão acaba por ser uma forma de entretenimento ou diversão, independentemente do grau de instrução da população;
- pode se apontar apenas alguns factores variáveis na escolha de programas televisivos, como p. ex, a estrutura das opções de programa e o seu horário, as próprias preferências pessoais dos telespectadores, a sua disponibilidade, o grupo de visionamento em que o espectador se insere e, até mesmo o seu nível de consciência, em determinado momento.

2. Modelos Culturais

Estes modelos têm como preocupação fundamental a forma como a comunicação de massas afecta a sociedade, do ponto de vista cultural. É possível, neste contexto, falar-se de «cultura de massas». Aqui já não importa tanto analisar os mass media propriamente ditos, mas o modo como influenciam os valores colectivos.

2.1. Modelo Cultural de Edgar Morin

Ora, antes da década de 1960, já tinham surgido preocupações quanto aos problemas provocados pelos mass media, sobretudo a liberdade de imprensa e o direito à informação. Inicialmente, este movimento, por assim dizer, desenvolveu-se nos Estados Unidos, para depois se propagar na Europa, com particular incidência na França, onde se destacaram as investigações do sociólogo Edgar Morin.
Através da sua obra l’Espirit du temps (1962), Morin evidencia o problema da cultura de massas, também denominada de cultura industrial, pois esta “é o produto de uma dialéctica produção-consumo, no seio de uma dialéctica global, que é a sociedade no seu conjunto” (Freixo, 2006: 379). Neste sentido, o seu modelo apresenta outras dialécticas, igualmente significativas: com a comunicação de massas, a autonomia individual é substituída pelo monopolismo industrial, o espírito inventivo é “apagado” pela estandardização, a criação original é substituída pela produção em série. Resumindo: as teorias de Morin baseiam-se na premissa de que “a cultura de massas é o produto de um processo dialéctico entre criação, produção e consumo. Neste sentido, o sucesso junto do grande público depende do grau de eficácia da resposta às aspirações e necessidades individuais” (idem, ibidem: 379/80).

2.2. Modelo Cultural de Abraham Moles

Na mesma década, surge uma outra obra importante na área da sociologia da comunicação de massas: a Sociodynamique de la culture, de Abraham Moles.
O seu modelo pode ser caracterizado da seguinte forma:
- a cultura individual é o resultado da educação e da experiência do indivíduo;
- a cultura colectiva distingue-se da individual e “é pertença de grupos sociais”, (…) de “uma rede de conhecimentos” (idem, ibidem: 381);
- existe a cultura viva, em constante evolução, de actividade verbal, que se distingue da cultura adquirida;
- a cultura adquirida caracteriza-se por uma memória colectiva que a sociedade passa de geração em geração e que é (tendencialmente) material ou “arquivada”;
- existe aquilo que se chama de «sociodinâmica da cultura» (daí o título da sua obra) em que cultura e meio interagem permanentemente, cultura essa que evolui com as contribuições dos seus criadores;
- à cultura adquirida acumula-se a cultura nova, criada, produzida pelos mass media, dando lugar a um amálgama que se pode chamar de cultura de massas, como ainda hoje se pode verificar na nossa sociedade.

Bibliografia

AAVV, Nova Enciclopédia Portuguesa, Lisboa: Ediclube, 1992.
AAVV e Sociedade da Língua Portuguesa, Dicionário Enciclopédico da Língua Portuguesa, Lisboa: Publicações Alfa, 1992.
FREIXO, M. João Vaz, Teorias e Modelos de Comunicação, Lisboa: Instituto Piaget, 2006.

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